quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Destino Certo

(Luiz Calcagno)

O sol encontra a noite,
No último segundo,
Ele quer beijar a Lua,
Em extase profundo.

Em plena agonia,
A Lua que se põe,
Vê nascer heróico Sol,
Remoto leste que se opõe.

E enquanto ele se parte,
E se vai contra a vontade,
Ela sente pleno em peito,
Dor de fogo que lhe invade.

Ele pinta o horizonte,
o crepúsculo da amada,
E deixa a linha que divide,
A distância encantada.

Ela sempre se transmuta,
Nessa dança do destino,
Cheia, curva, alva, negra,
Ela some em desatino.

Ai do Sol viver a Lua,
Pobre Lua que quer Sol,
Dois amantes, um umbral,
Se fitando em caracol.

Corpo e alma, eternamente,
Esse duplo é admirável,
Se fizessem minha'vontade:
Beijo pleno e incansável,

Nasceria então o filho,
Que o destino desejou.
O seu leito seria a nuvem,
Fecunda estrela do amor.

II
Dente de Leão
(Ao meu amigo Denny)

A vida é dente de leão.
Que parte carne,
Que rói músculo,
Que corta a respiração.

Osso canino atroz,
Faca sagaz afiada,
Conjunto de presas mortais,
Que ceifa a vida veloz.

A vida é dente de leão.
Suave, brando, delicado.
Eu toco, eu ergo, eu sopro,
Ele se desfaz em imensidão.

A vida é dente de leão.