A vida é um punhal
Um punhal, qual faca de dor
Faca da vida, curta e alheia,
Longa e distinta,
Um punhal.
A vida é faca, é lâmina,
Metal frio e fino,
Fio de navalha que separa a carne,
Que fere a pele
E abre sulcos...
A vida é um corte profundo,
Que se esvai,
Que toma em goles a si mesma,
Que se derrama no mundo.
Viver é morrer,
Morrer é lutar,
A vida é lança carrasca,
Corrente que arrasta,
Punhal a cortar.
A vida é fera ferida,
É gato manco que corre na relva,
É Cristo na cruz,
É sangue que derrama,
É réstia de luz.
Vida é vida... é morte.
E que fatal, fatalmente,
será ferido a faca?
Faca da vida.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Linha Tênue
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Nas pequenas coisas
Antenor, em suas andanças, acabou por se deparar com uma garota diaba que não tinha quase nada de brasileira. Só o idioma e a nacionalidade. Era Vanessa, a menina rica. Era quase exótica, filha de gente estrangeira, sem modelos, sem limites, sem desejos, sem saber o que fazer com a dádiva que o universo nos deu de viver (e que erroneamente atribuímos a nossos pais, sem saber que não precisamos tanto deles assim), totalmente libidinosa e serviçal, ao mesmo tempo que era mandatária. Na verdade era por isso que ele a via como uma diaba. Não ter o que fazer da vida é ser meio diabo, já que essa criatura-deidade-cristã (terceiro Deus dessa religião falso-monoteísta), foi banida para o inferno com suas hostes e séqüitos verminosos de amaldiçoados, para não ter função na criação. E foi nessas circunstâncias, imerso no tédio de sua condenação, que o satanás resolveu importunar os homens, filhos de Deus e primos em primeiro grau dos anjos.
Na verdade, nem eu, nem Antenor e nem Vanessa somos crentes desse tipo de história. Mas aqui ela é uma metáfora que nos cabe muito bem para dizer que a princesa do Nada era insaciável e sem desejos, que queria tudo e nada, e com sua poderosa noção de livre arbítrio virava do avesso a alma, a mente e o poder sexual de nosso herói. Aliás, segundo o próprio e muito sábio Antenor, não se deve dar muito ouvido a histórias e inclinações religiosas de nenhum tipo e de nenhuma cultura, a não ser para metaforizar a vida, afim de entendê-la melhor. Mas ele a encontrou em um barzinho subterrâneo (aí está mais uma proximidade com os infernos), em uma quebrada da Asa Norte, e é isso que importa agora.
Nesse ponto da curta história de Antenor e Vanessa entram as estrelas e os planetas, pois aquele casal viril, dado ao sexo e às coisas da carne de modo um pouco aterrador e espiritualizante, não tinha nada para se encontrar, mas se encontrou. A história mesmo não é curta, mas aqui ela vai ser, embora para os moldes da rede mundial de computadores ela seja até um pouco longa. Mas a astrologia entra nessa hora porque a conjunção dos planetas e a vida na terra fez com que duas pessoas, pouco parecidas mas com muitas coisas em comum, que levavam vidas distintas e distantes embora morassem na mesma cidade, se encontrassem assim do nada, como que por fruto do acaso, em um bar onde a música era ruim e que ambos haviam entrado de cara torcida e com vontade de ir embora, em um acontecimento constrangedor.
A vida é mesmo um jogo de sinuca, ou mesmo o universo o é, pois foi jogando sinuca, em uma tacada já perfeitamente calculada que no entanto saiu pela culatra (note que “culatra” é uma palavra que lembra “cu”), que Antenor derrubou a cerveja de Vanessa e pode então participar daquele mundo insosso e se deliciar daqueles lábios finos de princesa presa na torre e deitar-se, depois, sobre aquele corpo febril e deflorar a jovem com força, firmeza e ternura, e beber aquele caldo indigesto que lhe tomava o juízo. Mas chega de sexo por agora.
Ele puxou o taco para trás. A ironia aqui está nas probabilidades: primeiro, a tacada de Antenor ia decidir o jogo, e ele e Leon iam ganhar de Akira e Caetaninho, pois as bolas iam se configurar na mesa depois do acerto de uma maneira tal qual interplanetária que ia favorecer os dois mais jovens e mestrandos em comunicação, e derrubar Takeshi e Sólon, os professores de física do Colégio Objetivo (As Melhores Cabeças!) e camaradas de preserpagem dos dois primeiros durante o segundo grau; segundo, se ele não acertasse, o que era muito difícil de acontecer perante as possibilidades existentes, a jogada de Sólon ia configurar aquele universo relativo de planetas numerados de forma tal que o neutralizaria, o que era impossível que eles soubessem, mas lógico perante as leis da física e a habilidade e escolhas do grupo, e por uma seqüência de venturas, aos poucos, na seqüência de acontecimentos sinucosos, os meteoros e seres celestes do retângulo verde seguiriam para uma posição favorável não ao herói, mas os amigos dele, já que nenhum dos camaradas ali presentes eram de fato vilões; e terceiro, porque dizem que quem tem sorte no jogo tem azar no amor, e vice-versa. É difícil de entender, mas é irônico mesmo assim.
Na hora em que ele puxou o taco para trás na ânsia de caçador, na hora de atingir a presa desavisada, de destruir a civilização pecadora, de encaçapar e remodelar a mesa em nome da vitória dele próprio e de seu camarada Leon, Antenor bateu no copo de cerveja de Vanessa, que, desavisada, caminhava bem atrás do rapaz. O choque fez com que a cerveja da menina se derramasse na blusa branca, que ficou um pouco transparente, revelando um sutiã de inúmeras Betty Boop pequenininhas, e a tacada do rapaz se alterou no sobressalto de tal maneira que ele bateu na bola de um jeito estranho, ridículo e desengonçado, fazendo-a pular, rolar bem devagarzinho e não acertar nada, favorecendo totalmente a dupla de professores do ensino médio.
Ele olhou para a menina irritado. Ela também não estava feliz de ter molhado a roupa. Os dois começaram a rir. Como em um filme água-com-açúcar, ele pegou guardanapos para secar a blusa dela, passou a mão naqueles seios pequenos e tornou tudo um pouco mais constrangedor, mas só a ponto de estreitar mais rapidamente a relação que começavam a ter. Rude assumiu o taco de Antenor tornando o jogo ainda mais desfavorável para Leon, e para a felicidade de Sólon e Takeshi, o quinto amigo e mais habilidoso de todos abandonou a partida, entusiasmado que estava em conversar com a garota solitária, e aproveitando a oportunidade de abandonar o bar, que apesar de momentaneamente divertido, continuava incômodo.
Engraçado o fato de a mudança no jogo de sinuca se alterar por fatores abrasivos, porém distintos, tal qual o destino da humanidade sendo decidido por deuses gregos, que personalisticamente são tão caprichosos, mas simbolicamente são tão profundos e dados à alquimia e outras coisas espirituais que não estão, no entanto, ligadas ao religiosismo fanático e enganador da atualidade, pregado pelas instituições mentirosas que se dizem portadoras da palavra divina e que são, na verdade, ímpias, e não puras. As ações divinas dos Deuses das antigas religiões, de modo calculado, expressam desde a origem cientifica do universo até os destinos das civilizações, passando pela fábula e pelos dilemas morais de cada um de nós, de modo a transpassar toda a jornada intergaláctica de vida que vai parar no homem e continuar nos animais, vegetais e minerais. Tudo isso podia ser visto por olhos atentos naquele encontro casual.
E foi assim, como uma cosmogonia sexual, que Antenor e Vanessa tiveram seu primeiro encontro. Ele tinha 29 e ela 18. Se beijaram, se amaram, se apaixonaram e juntos, similares a duas forças da natureza que se completam, in e yang, positivo e negativo, claro e escuro, essas coisas, o casal liberou suas energias, criou, escutou música, produziu, trabalhou junto, fez projetos, atuou no plano real e trouxe pensamentos para o mundo das sensações. Erraram muitos caminhos, acertaram outros tantos. Ele enviava seus cometas para dentro dela. Ela os bebia em cima e embaixo. Sempre transavam. Ele adorava aquele corpo frágil e magro. Ela adorava aquela forma barriguda e esbelta. Viviam de tezão.
Como uma mitologia que começa nos acasos cósmicos e termina na vida humana, na epopéia para alcançar a condição heróica e depois novamente a existência divina, encerrando os ciclos e dando origem a novas dinastias olimpianas, Antenor e Vanessa tentaram reunir os pedaços de Osíris, e procuraram, tal qual Horus, guardadas as devidas proporções, a felicidade – assim – nas coisas pequenas da vida. Nos passeios, nas viagens, nos ruídos e coincidências e principalmente escalando montanhas, buscaram um sentido para tudo, já que tudo era dotado de um sentido sem sentido e precisava ser desvelado. Qual era o sentido por trás do sentido?
Antes, a vida dos jovens era mais ou menos como estar atônito diante da web, diante das tantas possibilidades de sítios e assuntos, diante de tanta oferta, que simplesmente não sabemos o que fazer no cyberespaço. Tudo era possível. Todas as saídas. As boas e as ruins. Juntos ganharam direção, e só não viveram felizes para sempre porque isso é impossível, e porque ninguém é inocente. Deram origem à segunda dinastia de buscadores da verdade: tiveram dois pequenos seres-humanos cabeçudos e barrigudos, dois meninos lindos de se ver, Juan, parecido com o pai, e Marcos, parecido com a mãe, que um dia iam contemplar o mundo ainda pior e que, aristotélicamente, também iriam buscar a felicidade em nome deles mesmos, de suas famílias e de toda a humanidade. Vanessa se dedicou à pintura e teve razoável estabilidade graças às suas inclinações comerciais. Nunca mais falou com os pais. Antenor nunca abandonara o casaco xadrez, a guitarra e a mulher, que morreu aos 38 anos, de acidente de carro, em um dia chuvoso, enquanto voltava para casa depois de um leilão de quadros. Hoje ele é músico e professor e os meninos estão na universidade.
Tudo isso, graças a um jogo de sinuca... O ano é 2015. Como eu sei? Eu estive lá. Estive lá e vi.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Blogosfera no poder - Selo
Soldados do contemporâneo, criadores. Em forma humanóide, com mãos e pés grudados, como um imenso ser uno bizarro e semi-rastejante, criador e destruidor, desforme e terrorífico, amável, seguimos oníricos. Partilhamos e compartilhamos, partimos e repartimos e re-partimos o lógos de um semi-manifesto! Viva a W3! Viva 23 de dezembro de 2012! Que venha o apocalipse!
Poder
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Blogosfera Armilar
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Mais selos -
E para celebrar a blogosfera nesse post atípico (na verdade todos os posts são atipicos), vão os selos que ganhei. Ganheio e roubei. Roubei de quem roubou de quem roubou, de quem ganhou, de quem ganhou, de quem ganhou...
1. Sabe de uma coisa
2. Afobório
3. Blog da Jana
4. Bloco das Nuvens
5. El Club Silencio
6. Digressões e Procelas
7. Pequena Cidade Âmbar
8. Arlequim
9. Cartolina
10. Olavo de Carvalho