Sou um baita de um escritor. Preguiçoso pra caralho, mas um baita de um escritor. E não fui eu que disse isso, não. Foi meu professor de mestrado. Do mestrado que eu não terminei. Meus olhos ardendo de tanto cigarro. Sentado na cama, no meu apartamento. Com um pigarro desagradável grudado na garganta e cheio de beijos espalhados pelo corpo. Ela está nua, exausta, adormecida, com os seios redondos à mostra, com as marquinhas do meu dente. É noite e estou nu. Nada melhor que a próxima tragada. Queria inventar um movimento literário que mudasse o mundo. No entanto estou aqui, sentado nessa noite solitária, perdido em BH, recém-chegado de Brasília. Não consigo nem fazer o que me proponho diariamente. Sou idealista, escritor e fumante.
Se bem que tem um tempo que não escrevo nada. Pouco mais de dois meses. Nada para a internet ou para o jornal. Vivendo de bicos de fotografia, coisa que nem faço direito. Pensei que precisaria de uma paixão para escrever. Arrumei uma. Então vi que o melhor era uma desilusão. Arrumei uma. Então decidi que o melhor mesmo seria uma puta. Uma que viesse sempre, que fosse bonita e que eu pudesse pagar. Uma bem gostosa...
Acabei desiludido e apaixonado por uma puta. Uma puta chamada Clara. Universitária, loira, carnuda, com um bundão lindo, que balança quando senta no meu pau, que grita e tem orgasmos de verdade comigo. Que me ama, mas que sou obrigado a dividir com os outros. Enfim, estou amando uma puta. E putas são difíceis. São muito sensíveis e delicadas. É complicado trepar de verdade depois do décimo cliente da semana. Ela te vê pouco. O dinheiro que dou a ela é o da nossa casa. Sexo eu não pago mais (ao menos isso). Pois é. O corno mora na casa da vaca, não é mesmo.
Mas isso não é importante. Na verdade, me sinto meio niilista. Nada é importante agora. As luzes da cidade, o trânsito na capital dos botecos, as ruas confusas e cheias de nomes do País, a favela, o posto de gasolina com os punks e hardcores... Nada parece importante. Nada é tão convidativo quanto saltar de cabeça do décimo andar para sobreviver deformado como um desenho bizarro, encarando as pessoas nas ruas, como um lixo que repete para cada olhar: “Eu sou você”. Pus, carne em estado de putrefação, mau cheiro e mau hálito para todos! E não ligo se o certo for “mal”.
Me apaixonar por uma puta, beber cerveja e fumar compulsivamente acabou não adiantando muito para mim, como vocês podem ver. Estou sentado na cama, fumando, com o pau mole, sujo do gozo dela, com aquele cheirinho característico. Agora estou desiludido, amando uma meretriz, quase como uma vítima ingênua do naturalismo literário, viciado, tossindo após cada corrida, e sem a maldita inspiração. Esqueci de dizer que também devo o aluguel. A inspiração também é uma mulher foda. Foda com ph, dois Ós, dáblio, dois dês e “A” craseado no final (Phoowddà), isto é, difícil mesmo. Preciso pagar um tributo para ela me deixar escrever, e ela ainda pensa três vezes. Olhando lá pra fora, com uma deusa usada e esgotada ao meu lado, imaginando quando esse inferno vai acabar, procuro as letras na minha mente.
Qual é o meu problema? Acho que acabo fazendo muito parte de minhas histórias. Parte dos meus personagens. Fico repetindo medíocre o que todos querem escrever, que todos já escreveram, que todos já disseram. Eu não quero dizer nada, fico querendo dizer tudo, como um poodle que corre atrás do pompom do rabo cortado. Quero contar a verdade, que ninguém vai saber, nem vai ler, porque todo mundo sabe, ninguém quer saber.
Para mim resta a morte, a obliteração. Escritor não lido parece que nem pessoa não existida. Não é perfeito, mas não tem defeito. Tem erro de português. Escreve errado. Escreve como se fala, como se pensa, como se vê, como se cega, como se segue. Se acha gênio, mas é macaco. Meu apartamentinho bacana, com um quarto, uma cozinha, uma TV, um computador, livros espalhados para fazer de conta que sei de tudo e uma gata deliciosa zanzando, é tudo o que tenho. E tudo se alinhava com o planeta, esse imenso ser humano azul que nada sozinho em alto mar.
Seria bom mesmo se o mundo tivesse mais uns sete dias. Só sete. Depois tudo fosse para o espaço. Queria ver todo mundo se fudendo, se matando, morrendo, roubando, trepando sem camisinha, promovendo o pandemônio (adoro essa palavra – pandemônio), fazendo aquela faxina. Muita overdose, fezes e corpos espalhados pela rua. Se todo mundo ficasse sabendo que o mundo ia acabar e resolvesse fazer tudo o que sempre quis, que desse na telha. Se todo mundo apertasse o reset no último minuto para jogar com desespero os últimos quarenta segundos.
Aí, com o mundo escroto mesmo, com morte, suicídio, assassinato, estupro, cachorro morto, e com a moral na lama, amoral, o oitavo dia podia nascer normalmente. Isso sim seria uma boa história. Quantos ainda seriam os mesmos de oito dias atrás? Seria bom fazer isso comigo mesmo para saber como eu seria.
Mas no fim, não estou tão mal. Amanhã recomeço a escrever meu livro. Tenho meio artigo pronto para mandar pra revista, que deve render um extra, já que o freela virou fixo e o fixo virou freela, e sigo minha trilha torta de rounin. Fumando, trepando, escrevendo e apagando. E a Clara vai trabalhar. Vocês não sabem de nada. Que gatinha. Loira do olho azul, com peitinhos grandes, gostosos, que cabem na boca mas sobra bem pouquinho, com pernas grossas, branquinha, toda sedutora, felizinha como um texto pornô de revista masculina, e amorosa comigo. Com uma xota molhada que lava a mão da gente e que engole gostoso. Que foda. Que linda, dormindo aqui com meu esperma escorrendo na sua perna. E eu ainda tenho que dividir...
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Me apaixonei por uma puta
Marcadores:
Narrativas
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Seu professor de mestrado tem razão: você é um bom escritor!
ResponderEliminarIsso se o personagem desse texto for você... hehehe!
E não, não sou de Minas. Sou do interior de São Paulo. Uma pequena cidade chamada Santa Isabel, a 60 Km da capital.
Abraço!
Não, não sou esse cara. Mas tenho alguns defeitos de escrita parecidos com o dele. Nunca estive em Santa Isabel, mas está nos meus planos conhecer todo o estado um dia.
ResponderEliminarÉ, concordo com o Ramonzito(meu companheiro de cidade..ahuihauih), você escreve bem, muito bem por sinal.
ResponderEliminarInteressante aqui, vou visitar sempre.
Beijão
Esses escritores QUEREM demais: um holofote só para si, uma puta só para si, um mundo só para si, um oitavo dia só para si.
ResponderEliminarAliás, gostei dessa coisa do oitavo dia.
Mesmo que o mundo não terminasse, todas as pessoas de oito dias atrás teriam morrido, e agora seriam outras.
Melhores ou piores, não sei.
Mas certamente diferentes.
E só por isso, já seria bom.
Outro grande texto.
Salve, salve.
:)
Adoro teus textos, essa mistura de ficção e realidade é fantástica...
ResponderEliminarDepois passa no meu orkut e dá uma olhadinha nas minhas poesias, tenho atualizado semanalmente...
um grande abraço amigo...
Nayane Bispo
um baita texto, muito bom mesmo.
ResponderEliminaracho que suas idéias são encantadoras e 'SUBVERSSIVAS".
acho seu blogue interessante por que olha ao longe enquanto escreve, embora (nesse texto) tenha usado a primeira pessoa como instrumento.
sorte e luz.
Não sei porque... me lembrei dum escritorzinho sem importância, um tal de Gabriel Garcia Marquez...
ResponderEliminarMas prefiro seus textos nao realistas/pessimistas...
vc sabe... eu tenho um lado Pollyana
=P
Bjos!
Muito bom! Só assino embaixo o deixado acima... Parabéns! Grande abraço!
ResponderEliminarAdorei o comentário, Jana. Faz todo sentido mesmo. Queremos demais mesmo. Mas é pedir muito, querer demais?
ResponderEliminar=)
Ok, vc não é o cara do texto, mas é um BAITA escritor.
ResponderEliminarE, se a gente parar pra pensar, todo mundo já se apaixonou por uma puta - não necessariamente uma mulher, mas uma dessas paixões que nos fisgam vida afora e com as quais temos de aprender a ser promíscuos em algum grau, porque por mais que elas nos cubram de delícias, sempre vão deitar na cama alheia. A arte é assim. Apaixonante, visguenta, promíscua. E a gente corre atrás dela, e não sai de cima. E ainda come e bebe com seus outros amantes :)
Eu venho comer e beber muitas outras vezes aqui com você. Adorei o tom da tua escrita, e tô levando seu link comigo.
Beijões
Ah, sim, preciso dizer: amei o gatinho :D
ResponderEliminarobrigado pela atenção meu velho, obrigado mesmo.
ResponderEliminare você pegou a coisa, é mesmo isso.
pensa na história, pois o gênero é nada mais que uma segmentação estipulada pelos homens, afinal, o horror pode ser romântico.
pense em quebrar o paradígma.
mesmo por que até a beleza pode ser satânica, pegue uma foto de uma pessoa linda (de acordo com os padrões estabelecidos) e fique olhando a imagem, e pense se não pode ser macabro.
mas enfim, não sou macravo, apenas escrevo, acredito no medo, é só isso.
é o King e o Pink Floyd que me atormentam, aliás vou te contar um segredo, escrevo horror, mas tenho medo de filmes do gênero.
abraço.
Vou resumir:
ResponderEliminarUma vez alguém me contou que tinha muita vontade de "saltar de cabeça do décimo andar para sobreviver deformado como um desenho bizarro, encarando as pessoas nas ruas, como um lixo que repete para cada olhar: “Eu sou você”".
Talvez na próxima tesourinha, um carro cinza esteja de ponta cabeça. E um repórter, na ronda, veja o policial colocar a garrafa de redlabel no banco de trás. Só para simular um alcoolatra.
B, b.
=***
Ei... My Favorite Things está de volta!
ResponderEliminarÊêêêêê...
É retrospectiva! =)
ResponderEliminarSe formos pensar melhor, em todos os casos a dor é opcional.
ResponderEliminarBem.
Em quase todos.
:)
Abraço
Delícia de blog!
ResponderEliminarQuerido, tu recebeu um selo.
ResponderEliminarDepois passa no meu blog pra pega-lo.
em partes.
ResponderEliminarprimeira: a sua teoria é absurdamente real e eu concordo em gênero, número, grau e que variável mais houver com ela.
segundo: o "puto" escritor só escreves "putos" textos mesmo quando trata uma puta a ferrero rocher.
suas fotos devem valer um bom dinheiro, ao menos deveriam. eu gosto muito delas.
Olá!
ResponderEliminarVoce falou em movimento literario no post sobre Clarah AVerbuck no blog da Jana, entre em contato, assim podemos conversar por email.
Zan
3am.brasil@gmail.com
A falta de acentos é porque nao os tenho disponiveis no teclado.
ei ei, não vale postar o que eu pedi pra você comentar... bobo =)
ResponderEliminaramote =*
voltemos ao proximo tópico de ficção, que esse povo não sabe separar autor de personagem ok. ainda nao pretendo mudar de profissao... =)
bom e interessante.
ResponderEliminarSinto-me honrada por ver que gostou do me blog.
ResponderEliminarVc é um ótimo escritor!
Textos interessantes aqui.
Me lembra bukowski, por mais que comprações sejam odiosas hahaha
grande beijo.
é, e que venha o pandemônio...
ResponderEliminarBy the way. Eu adoro suas fotos. E ponto.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarbem estiloso, como o velho Buk...
ResponderEliminarbeijos