O homem de terno marrom avançou em meio às pessoas da feira, com passadas fortes e firmes. Passou pelos melões, pelos pimentões, pelas cenouras, por uma velha com a sacola enorme, pela mãe com o filho, pelo namorado com a namorada, pelo tomate, pelas mangas, pelo casal de velhinhos, pela figura de burka, pelo rabino, pelo judeu, pelo homem negro de roupas colorida e pelos americanos. Ele movia todo o seu corpo para frente com o olhar fixo e uma determinação elevada, para que seu espírito não o traísse pelo medo. Puxou o homem de terno cinza, que sorriu por uns instantes ao vê-lo, e socou-lhe a face.
Antes que a vítima pudesse se dar conta do que estava acontecendo, o agressor marrom socou-lhe novamente a face e o derrubou no chão. As pessoas se amontoaram. Uma mulher gritou. Homens se aproximaram para apartar, mas não conseguiram deter aqueles braços contrariados e fortes, que pareciam, incrivelmente, agir por dever. E, tomado por uma ira, o homem de terno marrom sentou sobre o homem de terno cinza e deu-lhe mais três tapas, até que o outro finalmente desse conta do que estava acontecendo e elegantemente afastasse o brutamontes para longe de si sem muita dificuldade.
O homem de terno marrom estava aos prantos, enquanto o agredido recompunha-se sem uma gota de raiva no olho, embora tremesse um pouco e tivesse sangue nos lábios e os olhos bem abertos. Depois que estavam de pé, frente a frente, o homem de terno cinza finalmente respirou e começou a falar enérgico. As pessoas que se detiveram por alguns momentos enquanto brigavam, voltaram a caminhar comentando o ocorrido sem entender e fazendo especulações diversas. Curiosos, atentos e pessoas bem e mal intencionadas seguiram seus caminhos.
- Por que me bates? Não tínhamos conversado? Não estávamos resolvidos? Achei que não te devesse mais nada! Mas agora, aqui, em praça pública, me humilhando na frente de todos esses desconhecidos, você me soca a face!? O que queres que eu pense? Já fiz tudo que podia ser feito! Já te pedi desculpas!
- Não se trata mais de você. Não te bato por ódio, e nem por rancor!
- Recomponha-se! Pare de chorar. Não há necessidade disso. Se me feres, quem deveria se verter em lágrimas sou eu, e não tu. No entanto não choro, então também não tens motivo.
- Choro porque sofro em te infringir dor. Por que ao te ferir me machuco ainda mais.
- Não entendo então. Já te pedi perdão de joelhos! Se sofres tanto em me agredir, se isso não te trás nenhum alívio, porque me esbofeteaste?
- Você sempre foi mais forte! Mesmo eu sendo maior, você sempre foi melhor de briga que eu! E mais ainda, sua força moral sempre esteve acima da minha, muito mais elevada. Mesmo que você tenha me ferido de um jeito que nenhuma dor física consiga me atingir, meu amigo, meu irmão, continuo sentindo essa força espiritual inspiradora emanar de você e me guiar pelos caminhos do mundo como um mestre... Você sempre esteve acima para mim...
- Não compreendo. Aonde queres chegar? Queres novamente que eu te peça perdão por tudo que fiz? Se quiseres, eu peço, aqui, de joelhos, em frente a todas essas pessoas. Não me custa. Não é demais para mim. Somos irmãos. Teu perdão vale mais que meu orgulho. Não temos o mesmo pai ou a mesma mãe, sou rico e tu és pobre, mas eu te amo e nem Allah pode mudar isso. Eu te peço: perdão, meu irmão. Pequei contra ti e contra meu espírito. Te peço perdão.
- Não é isso. Não quero que me peças perdão novamente. Não te humilhes. Levante-se, por favor...
- O que queres então? Porque me esbofeteaste?
- Precisava... Precisava ter certeza...
- Certeza de que?
- Certeza de que realmente lhe perdoava, com o meu coração, com o meu espírito, e que não fazia isso por covardia ou impelido por tua grandeza, por interesse pessoal.
- Irmão!
- Por que me olhas assim? Estás a chorar tu agora?
- É que agora me sinto realmente perdoado. Compreendo a essência e o valor dessa palavra como nunca. Não há mais arrependimento, porque vós me perdoastes. Muito obrigado, irmão! Muito obrigado. Allah foi muito generoso de pô-lo em meu caminho. Tu és um homem superior. Toda a dor que me causaste agora a pouco tornou-se em redenção!
- Pare de chorar tu agora, que estás a me envergonhar. Dá cá um abraço, meu irmão querido! Não vamos brigar mais.
- A partir de hoje este dia será considerado feriado em minha família, e trocaremos presentes em tua homenagem! Sumaya vai preparar um belo jantar hoje. Poderias passar lá em casa para nos saudar com tua presença, para comemorarmos esta data especial.
- Claro...
- Acreditas que...
- Sim, com certeza...
- ...
- ...
- ...
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Apresentamos o Especial de Natal Casa das Mentiras!. Em breve voltaremos com mais sobre a saga O Caminho das Folhas, e a história de Thomas, Ilka e Rafaela. Feliz Natal a todos!!!
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Especial de Natal Casa das Mentiras
Marcadores:
Diálogos,
Narrativas,
Poesia
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Se eu pudesse, ficava a vida inteira lendo seus textos... (:
ResponderEliminarGosto dos silêncios meu caro, porque é neles que mais se diz.
ResponderEliminarVou ler com calma mais tarde, e ai comento novamente.
ResponderEliminarAgora só vim dizer, que estava na casa do namorado em sampa, e voltei hoje,vou ver se posto algo mais tarde.
Beijaooo
Cara, eu amo essa música que vc colocou na testeira do blog.
ResponderEliminarFeliz Natal pra vc também! E assim que chegar em casa leio o texto e comento direito, porque no trampo as pessoas me perseguem, grrr!
Beijos!
Silêncios que valem mil palavras... Obrigada pela força, pelo privilégio de frequentar seu blog! NATAL DE LUZ, 2009 AINDA MELHOR! Grande abraço!
ResponderEliminarAhhhhhhhhh lindo demais, e quem contestará de que é feita nossa crença, nosso feriado, quem contestará o que queiramos festejar?
ResponderEliminarAfinal o que aprendi ser o natal, é exatamente isso, amor, perdão, fraternidade[ que não vem somente do sangue].
Feliz Natal e ano novo, queridão.
Beijocas
ahh meu amigo, concordo com a Vivi..
ResponderEliminaradoro seus textos!
Um maravilhoso natal iluminadíssimo pra vc e para todos q ama!
bjãoo
obrigada por escrever tão bem!
ResponderEliminarseu conto é de fato um presente!
feliiz ano novo amigo!
Ah! Se não apenas o nome, mas o meu talento pudesse ser comparado ao teu...
ResponderEliminar...
...
Obrigado pelos votos! Sejam feitas minhas ao menos essas suas palavras!
ResponderEliminarNossa, adorei a história, Luiz! Sabe, sempre me atraiu esse tipo de diálogo, meio antigo, meio formal, muito charmoso!
ResponderEliminarEi, tenho um presente para ti: há dois selos que ganhei de um blog e gostaria de os ofertar a ti por escreveres tão bem e por seres sempre presença constante no Antropofágica. Espero que os aceite!
Adoro-te, Luiz!
Beijos
querido luiz.. vim te convidar para conhecer meu novo blog!
ResponderEliminarA Casa das Mentiras, já está adicionada aos favoritos em ambos.. quando puder faça uma visitinha ok?
bjoo
Adooorei.
ResponderEliminaro melhor conto de natal. rs
Beijão, querido.
Fora as letras do Los Hermanos, o conto realmente está muito bom. Com problemas de continuidade, mas muito bom.
ResponderEliminarAbras e boas festas.
Fala, Luiz, seu blogue já estava linkado ao meu, sempre que posso dou uma passada por aqui, a fluência dos teus textos é ótima, lembra-me alguma coisa de Rubem Fonseca, a precisão da narrativa talvez...
ResponderEliminarE boa festas pra você também... abraços...
Sim; e a saga continua, mas é a Gizella que está fazendo a matéria que vai sair neste sábado. Quem sabe não passam a ligar pra ela né?
ResponderEliminarEscrevi esse post ontem à noite porque tava no plantao de ficar até meia noite. Hoje eu entrava só 11h, mas acredita que recebi outra ligação 8h e pouco?
Pelo menos escrevi o nome da mulher lá no post e meu blog tá bombando de visitas porque nego tá entrando via pesquisa no Google.
Inclusive, isso me intrigou. A mulher sumiu e as vítimas a estão procurando no... Google?
Feliz 2009.
ResponderEliminarCadinho RoCo
Como sempre, EXCELENTE!
ResponderEliminarbeijossssssss
Sorte que curiosidade não mata.
ResponderEliminarAbração querido!
E um 2009 porreta!
:)
ai ai... esse tal de PERDÃO.
ResponderEliminaró, um caminhão abarrotado de bons momentos pra vc em 2009.
FELIZ NATAL BEEEM ATRASADO...
ResponderEliminarMAS NÃO IMPORTA...É SEMPRE BONS CELEBRARMOS O "PERDÃO" NA CASA DE SUMAYA, HAHAHAHA!
BOM 2009...
como disse só leio a historia qdo for publicada.
ResponderEliminarpq acredito q ela será publicada e q vc encontrará o caminho para o que procura.
assim como eu
FELIZ NOVO ANO PRA GENTE!
um bjo grande
Tem muita gente por aí que desgasta por nada. Silenciar é essencial. ;)
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