sexta-feira, 30 de abril de 2010

Sussurros catedrais

Brasíííííííííliaaaaaaaa... Brasíííííííííííííííííííííliaaaaaaaaaaaaaaaa...
Brasíííííííííííííííííííííliaaaaaaaaaaaaaaaa... Brasíííííííííliaaaaaaaa...
Brrrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaaasíííííííííííííliiiiiiiiiaaaaaaaaaaa...
Uma voz clamava em sussurro... O mármore nobre brotava dilapidado e limpo da terra vermelha. Edifícios se erguiam como fantasmas que saiam das sepulturas, em meio as árvores distorcidas e rústicas. Um braço se estendida, outro em seguida: W3. E então em uma cruz, Eixos, tudo! Deuses adormecidos abriam os olhos. O céu crescia e azulava. Todos os regimes políticos, todas as religiões, todas as cores, todas as línguas... As almas clamavam em chama branda e crepitante Brasíííííííííliaaaaaaaa... Brrrrraaaaaaaaaasíííííííííííííííliaaaaaaaaaaaaaaaa... E a canção reverberava nas curvas e linhas retas, e as flores explodiam em meio a jardins espirituais. Pombal e bandeira. Mãe!? Alguém chamou... Pai! ? Alguém disse... Alguém aí!? Gritaram.. Guenhaíguenhaíguenhaíguenhaí!?... Respondeu a voz do Eco. O sol ardia sobre as construções oníricas que flamejavam. O coração do Brasil. Ela não foi construída, foi conjurada, não veio a um chamado, mas a uma convocação, com seu groso concreto que flutua inexplicavelmente, sua doce ordem mistérica. O coração batia forte ao ver a graça de um esquecido Deus. O céu se unia à terra nos gomos da catedral-pirâmide. Tudo respondia ao sol que vem do leste. Outrora, com força, eles ouviam os sussurros. O peito tremia vibrando no ritmo das batidas do coração. Braaasíííííííííííííííííííííliiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaaaaa... Uma voz baixa que ecoava da alma dos brasileiros. Já estava lá, mas ninguém a ouvira antes, a não ser Dom Bosco. E os candangos caminhavam para o interior vazio, em uma terra onde tudo é nascer do sol.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Nos braços da W3

Às 6h30 Zaratustra caminhou sobre o telhado, equilibrou-se sobre o muro e pousou com graça no gramado, cortando o jardim verde até o reboque, do outro lado. Entrou na escuridão e se abrigou. Gatos gostam de lugares quentes. Alguém deu a partida no carro e saiu. O sol já ameaçava brilhar forte. O veículo percorreu a Estrada Parque Indústria e Abastecimento, entrou pelo Eixão, que estava fechado, desviou pelo Eixinho W Norte, caminhou por sobre as tesourinhas e escutou 10 minutos de badaladas de sinos da Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida. Lá atrás, Zaratustra saiu da penumbra divertindo-se com coisas invisíveis. Cidades satélites, que giram em torno da utopia. O carro desceu para a rodoviária, entrou no Eixo Monumental, passou por debaixo da plataforma, pela entrada da W3, pela Torre de TV, pela Funarte, pelo palácio do Buriti, fez o retorno no Memorial JK, entrou no Setor de Industrias gráficas e estacionou em frente ao edifício do Diários Associados. Jornalistas de plantão já começavam o dia. Ela desceu do carro e acendeu um cigarro. Branca como a neve, como os palácios de Niemeyer, com o cabelo pintado de vermelho, como a terra do planalto central, com os olhos incrivelmente azuis, como o céu da capital, e com os lábios plácidos como um lago. Completamente solitária, como um sonho de Dom Bosco. Ela era um sonho, vivendo entre os monstros da própria criação, contando o tempo perdido, celebrando a estupidez humana, com festa, velório e caixão, seria apenas sua imaginação...* Uma tragada mais longa que a outra, inebriando a alma, tranquilizando o corpo, aquela personificação da cidade, em linhas e curvas tão belas, não tinha motivo para estar ali. Era aniversário da cidade. Tudo poderia acontecer. Seu celular não tocou. Zaratustra saiu de casa para mais uma de suas andanças. Tudo vibrava. A jovem olhou para o próprio pulso. Uma tatuagem dizia W3 Sul, e uma cruz, os traços do arquiteto, tudo preto, como se fosse mal rabiscado. Ela desapareceu na última tragada, deixando o carro aberto e a bolsa sem documentos sobre o capô. Tudo inexplicável. Brasília, incompleta, eu te amo.

* Urbana Legio Omnia Vincit

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terça-feira, 6 de abril de 2010

A partida do Tigre

(Luiz Calcagno)

Em pensar que para mim
Com você tudo era claro.
Os teus cachos nos meus dedos,
Os teus beijos, meu regaço...

Em pensar que então, depois,
As circunstâncias mudaram -
Aqueles de quem tu eras,
Dos meus sonhos te arrancaram.

E você foi-se em espanto.
Fiquei só, a lhe esperar.
Nosso perto fez-se amplo,

Nosso lago fez-se mar,
E no final dei meu pranto,
À noite escura e sem luar.