sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Um suspiro antes da queda

15 de agosto de 2014, 23h46, redação do Correio de Brasília.

- Se for assessor empurrando pauta vou mandar para aquele lugar! Peraí que já atendi aqui... Fabrício Gonzaga.
- Oi lindo!
- Maren?!
- Queria ouvir sua voz.
- Já falei para não ligar na hora do fechamento! Ta corrido pacas aqui, e depois você fica achando que não te trato bem...
- Desculpe... Eu só queria saber se você vem...
- Não... Esquece. Desculpe... Acho que sim... Peraí. É que às vezes fica puxado aqui, e eu perco a cabeça. É bom ouvir sua voz. Pode falar...
- Como ta aí?
- Tá foda. Tô com aquela pauta do MP até hoje...
- Caralho, Fabrício! Cadê a porra do info-gráfico?! Já mandou os textos pro pessoal? Não chegou ainda.
- Tá com a arte! Já devia estar pronto. A matéria já foi pra gaveta, é só puxar aí! Então, o que você ia dizendo? Como foi o dia?
- Foi tranqüilo. Ajeitei as coisas para a publicação, os fotógrafos mandaram os arquivos de imagem. Vai ficar bonito. Quero te mostrar a formatação hoje a noite. Se você puder passar aqui em casa... Eu aproveito e te mostro... outras coisas... Posso te esperar? O que acha?
- ...
- Fabrício? Ta aí?
- ...mostrar as fotos do livro... Tô ouvindo, linda. É que estou lendo um e-mail aqui. Ca-ra-lho! Vou ter que alterar a matéria pela quarta vez, amore. Você acredita? Os caras não se decidem... Odeio trabalhar com o Ministério Público. Uma semana com essas matérias de merda que mudam cinqüenta vezes por dia na hora do fechamento!
- Mudei um pouco o lead do texto. Pode mandar pra paginação? Pode mandar pra paginação, Fabrício?! Fabrício?!
- Não, chefe! A assessoria mandou um posicionamento novo. Vamos ter que mudar a retranca. E tem uns dados novos também. Eles conseguiram os valores dos prejuízos do governo com o patrimônio público destruído.
- Como é que é? Porra! Que merda! Vou te mandar a matéria de volta então...
- Tá. Mas e então, amore, você conseguiu as fotos e deve lançar o livro? Legal! Quando posso ir aí para ver? Aproveitava para te dar um beijinho.
- Esse jornal não fechou até agora?! Cadê a arte pessoal?! Se vocês não fizerem alguma coisa a respeito vou derrubar a porra da matéria! Não quero saber!
- Eles mudaram tudo. Já tava tudo pronto... Não é culpa nossa, chefe!
- Pô, Fabrício, não ta me ouvindo, né? To te chamando pra vir aqui pra casa hoje e você não ta me ouvindo.
- Desculpa, o editor chefe tava falando com a gente aqui. Não ta dando pra ouvir tudo, mas fala assim mesmo. Ta movimentada a redação, linda... Acho que vou pirar... Não vejo a hora de terminar a pós e dar aula. Largar de vez esse mundo de jornal diário. Chefe, o pessoal da arte mandou o infográfico para a gaveta! Devolve lá que eu vou alterar o último tópico e já mando o texto para eles!
- Já devolvi!
- Mas então, você vem hoje? Posso ficar te esperando...
- Putz. Peraí chefe... Ta aqui. Mudei só uma parte do texto. Não precisou mudar tudo. Só troquei uns dados ali e inseri um parágrafo.
- Fabrício?
- Vou dar uma cortada então. Já mandou o texto para a arte?
- Fabrício?
- Já mandei. Peraí... Oi?
- Tem certeza que eles não pegaram esses dados?
- Lindo, ta me ouvindo?
- Tenho. A assessora me garantiu que é exclusivo. Pode por na capa que vai ser furo.
- Fabrício!?
- Oi!
- E aí, você não respondeu, vem ou não vem?
- Vou, mas chego tarde. Aliás, melhor não. Amanhã o dia vai ser tranqüilo. Amanhã eu vou. Aqui, chefe, te encaminhei o e-mail.
- Recebi aqui. Já estou lendo.
- Linda? Alô? Porra, desligou.
- Era a mulher?
- Minha namorada... Cacete. Vou acabar levando um pé na bunda.
- Amanhã você vem só na parte da manhã. Aproveita e junta a tarde com o final de semana. Olha só isso aqui! Brasília é um ovo de codorna mesmo... Essa assessora é filha da minha namorada de faculdade...
- ...
- E aí, ele vem?
- Não, não vem.
- Bom, sobra mais tempo pra nós.
- É...
- Não fica assim, depois você fala com ele...
- Só acho que isso não é direito. Estou me sentindo uma escrota.
- Ele não é pra você. Além do mais, está trabalhando contra nós. Senta aqui do meu lado... Quer falar sobre isso?
- Não. Vamos mudar de assunto... Mmmmmm...
- Vem cá, deixa eu tirar isso...
- ...

12 comentários:

  1. Se eu quero participar deste projeto engordativo para leitores órfãos?
    Tá brincando...
    Claaaaa-ro.
    É só me avisar, tô aí prá isso.


    Quanto ao texto, adorei.
    Tu tem uma facilidade impressionante para descrever toda uma situação através de diálogos - o que não é nada fácil.

    Bem, mantenha-me informada.
    Abração
    :)

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Eu te aviso quando tiver mais informações. Quando eu era criança era o meu estilo predileto. Mas só agora comecei a experimentar mais.

    Abraços

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Isso aqui parece minha vida cotidiana... tirando a última parte, claro! Tô vendo a hora de perder amigos e namorado por conta disso... aff... ainda bem que eles são bonzinhos comigo! ^^
    Eae, chato... já voltou pra algum editorial-maluco-stressante?
    Agora minha vida vai ficar mais maluca, prq passei na OAB! o/

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  6. Ooooo vontade d viver o stress d fechamento d novo..

    eu sei, eu sei..sou masoquista!

    pronto, d volta a ativa...mas esperarei vc comentar no post pra começar a falar da viagem...

    Bjos!

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  7. Agora já comentei. Apareça, dona Barrakinha...

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  8. Esse negócio de invisible-irish-man sempre de empolga bastante. Coloca os poderes dele no próximo.

    Ok, só eu sei a continuidade do livro, mas o que custa saber e não comentar para os outros? ;)

    E a estória do e-mail. Vai complementar ou segmentar em diálogos?

    B, b.

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  9. Simplesmente sensacional..
    Descreveu tudo de um jeito que parecia eu entre chefe e telefonemas !!! Enfim.. Passarei por aqui sempre. Beijokas

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  10. .

    fico feliz que, na esquina ao lado do club silencio, haja uma "casa das mentiras" tão bem decorada e tão agradável de visitar.

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  11. De tanto chutar uma hora o Orkute acerta.
    Hahahahaha.
    Mas pode deixar que eu te aviso sim. Se quiser ler o texto selecionado, eu linquei ele lá no meu blogue, na última postagem.
    Se chama A Morte.

    Um abração querido!

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É isso aí, amigo, manda ver!