quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O caminho das folhas - A festa (Cap. 2)

Cheiro de expectativa no ar. 16 de abril. Tudo decorado. Balões vermelhos, verdes e brancos. As mesmas cores no xadrez das roupas dos garçons. O estúdio de paredes roxo-cinzento estava todo decorado, igual a um salão de festas. As cortinas estavam fechadas e o som desligado. Os convidados eram servidos em suas mesas. João afinava uma guitarra no volume mais baixo. Tom ia chegar a qualquer momento. Era uma surpresa. Uma grande surpresa. Ele tinha 27, mas não era seu aniversário. Rafaela corria para lá e para cá. O interfone tocou. O porteiro avisou que o dono da casa estava subindo. Todos apagaram as luzes. A menina preparou o próprio triunfo, que era comemorar o triunfo do irmão. Silêncio.
Rafaela estava com a razão. Ele fora aprovado com mérito. Foram quatro anos de estudo. As coisas deram certo rápido demais para ele. Era agora mestre em fotografia e comunicação visual pela Universidade de Brasília. Ele parou o carro, caminhou contente pelo piloti, ansiando chegar em casa e contar tudo para a irmã. Esperava um cafezinho, e depois trabalhar nas fotos que o GDF encomendara para a festa de gala de aniversário de Brasília. Um silêncio cairia muito bem. O porteiro estava estranho aquele dia. O fotógrafo entrou na portaria, entrou no elevador e parou no corredor do primeiro andar. A luz se acendeu. As paredes branco-gelo e a samambaia de mentira em um grande vaso o cumprimentaram.
Estouros, cornetas, confetes e serpentinas no ar. Thomas abrira a porta. Um imenso grito de surpresa o deixou paralisado. Os Paralamas começaram a tocar Vital e Sua Moto. Rafaela pulou de chapéu, língua de sogra, colar de flores havaiano e nariz de palhaço em sua frente. Estava com aquele sorriso que era um sorriso sempre ideal, com convinhas, maroto, engraçadinho. Ele fora pego. Não tinha escapatória, mas estava feliz. Aquela diabinha. A levantou no colo e girou. Ela gritou. Ele a soltou. Muitos vieram lhe dar os parabéns. Abraçou João, seu eterno irmão de aventuras, cumprimentou os colegas de faculdade da irmã, inclusive o tal Lucas. Sorriu para todos e atendeu o telefonema dos tios do Rio Grande do Sul.
Muita lasanha, vinho tinto, macarronada e profiterolis para a sobremesa. Belle and Sebastian, Franz Ferdinand, Gal Costa, Caetano Veloso, Legião Urbana, Pink Floyd e Beatles. O volume foi abaixando. O número de pessoas foi diminuindo. Os carros na rua foram desaparecendo. A euforia foi chegando ao fim. Thomas beijava Graziela. Se atracavam. Os garçons estavam exaustos quando finalmente se foram. Os visinhos já haviam reclamado. A casa pareceu mais deserta que o habitual. Havia muito lixo. A garota beijoqueira da agência de publicidade ficou por último com João e Cálida para ajudar os irmãos. Depois ficaram sentados na cozinha, tomaram café e falaram sobre a vida. Tom contou como foi sua banca. Como desbancou.
Passava das 3h. Rafa abraçou o irmão com força. Ele sorriu. Estava com olheiras, esgotado. Ela também. Os planos de trabalhar naquela noite foram por água abaixo. O som alto ainda reverberava em ecos, latejando na cabeça dos cinco. Grazi, então, foi embora. João abraçou o amigo novamente. Cálida se despediu. Eles insistiram para o casal ficar. A caçula sorridente trancou a porta quando enfim estavam sós. Tudo voltara ao normal. Mais ou menos. Era uma nova fase para o mais velho. Mas ainda eram os mesmos. Ele levou o porta-retratos do quarto para a cozinha, e trocou a foto da geladeira, com Rafaela de palhaça, pela foto dos irmãos abraçados na creperia. Nela estava escrito: “Garotos perdidos! Eternamente unidos”.

12 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  2. adouro profiterólitos =)

    ...
    só pra constar

    ResponderEliminar
  3. Hhuahuahuahua...me vi nessa festinha! tipica festinha de Brasília em algum apartamento do plano!
    Muito bom Luiz!!!!
    Bem realista!

    ResponderEliminar
  4. Adooooorei.
    Meeeu, babo no que você escreve. É sempre tão lindo.
    Beijos, meu querido ;*

    ResponderEliminar
  5. Eu continuo curiosa.
    E a história continua incrível e instigante.
    Até já me apeguei na Rafaela.

    Abração rapaz!
    :)

    ResponderEliminar
  6. Adoro ler teus comments lá no meu blog e, quando chego aqui, me deleito do teu talento.
    E adoro tudo mais ainda!

    beijão!

    ResponderEliminar
  7. E os irmãos nessa noite dormiram abraçados no sofá. O velho sofá.

    Beijos de um TE ADORO de chuva fina, de primavera.

    ResponderEliminar
  8. meu garoto, palmas, qualquer coisa dita a mais aqui será reduntande.


    sorte e luz.

    ResponderEliminar
  9. Oxi, que lindo! Adoro festas surpresas!
    Bem, acho que já começo a ansear pelos próximos capítulos...
    Adorei.
    Beijos

    ResponderEliminar
  10. Fiquei pensando na bagunça do apartamento depois de tudo isso. (êh Dona de Casa!)

    Pois é... sábidolá porque os comentários voltaram. Foi bom...




    Heim, nesta Casa aqui, tudo é mentira mesmo?

    ResponderEliminar
  11. leitura atrazada, comentário atrazado... Leio e faço CLAP, CLAP também. Nossa, isso até parece refrão de samba do Zeca Pagodinho. KKKK

    ResponderEliminar

É isso aí, amigo, manda ver!