quinta-feira, 4 de março de 2010

Velharias

Poesias da antiga casa, que eu resolvi deixar aqui...

Richthofen
(Luiz Calcagno)

Mui bela és tua figura
Morte Ruiva se aproxima
Não te culpo pelos teus crimes
Em meu altar tu és rainha

Sei que é loucura minha
Morte Ruiva e estrangeira
Sei que é loucura minha
Meu amor é só besteira

Mas mesmo assim sonho
Contigo madrugada adentro
Imagino seus beijos quentes
Claudicantes, úmidos, lentos...

Imagino teu corpo branco,
Desnudo, trêmulo, culpado
Minhas mãos quentes passeiam,
Por terrenos nunca d'antes desejados

Morte ruiva e condenada
Richthofen tu és tão bela,
Solitária, poderia ser amada?
Seria meu peito tua eterna cela.


Melhor

Foi melhor pra mim,
Ou foi melhor pra você?
Não vou desistir assim,
Nem parar de beber.

Seus olhos são os melhores
Que alguém poderia ter,
Sinto saudades de tudo,
Não poderei mais viver...

Se foi tão bom assim,
Então foi melhor pra você.


Menina

Aquela voz estridente,
Que dá gastura na gente,
Aquele rosto fino,
Com cara de menino,

Pensando nas espinhas,
Que dão até nojo,
Naquele hálito de miojo,
naquele nariz inchado,

Pensando bem,
Acho que estou apaixonado


Shut Down

Maria nada via, só seguia,
E Edgar sozinho no solar,
Mais um amor terminava,
Mais uma gota no mar.

E doía tanto o coração,
Doía de não conseguir respirar,
Sem Maria, Edgar decidiu tudo,
Decidiu, pois, ia se desligar.

Não demorou pra correr a notícia,
Ele não estava mais no solar
Arrependeu-se então Maria Bela,
E como ele decidiu se desligar...


Profano - a paródia

Creio em mim mesmo,
Nada poderoso,
Criador de minha realidade,
E em meu coração egoísta e pagão,
Que foi esfaqueado, esmagado e espalhado.
Creio na minha batalha,
Creio em John Lenon,
Na comunhão dos sexos,
Na epifania dos meus pecados,
Na putrefação da carne,
Na vida enferma,
Ah, nem...


Pontada...

Esse lance de lança,
No meu amargo coração,
Está incomodando tanto,
Estou cheio de preocupação.

Esse lance todo de guerra,
Toda essa decepção,
Está lançando no mundo,
Uma onda de depressão.

Mas deixe de brincadeira,
E desse alvoroço gigantesco,
Será que você não entende,
Lança no dos outros é refresco.


Cara de cicatriz

O ferimento não fechou...
Eu é que absorvi.
Eu devoro as cicatrizes,
Que o tempo esqueceu aqui.


Maria Déia e Virgulino Ferreira

Senhora Maria Déia,
Esposa de Zé Neném,
Filha de Maria Joaquina,
Não era Maria ninguém.

Maria de Malhada do Caiçara,
Com certo cangaceiro fala
E vai ser na porta do rifle,
A mais doce e certeira bala.

Dona Maria Bonita,
Maria do Capitão,
Maria Gomes de Oliveira,
Maria de Lampião.


Onze mais três

Onze chances tivemos,
Onze vezes erramos,
Onze horas perdemos,
E ficamos aqui orando.

Onze dias se foram,
Onze dos nossos morreram,
E depois das onze da noite,
Onze garrafas bebemos.

Onze foram as vezes
Que tentaram me avisar,
Que aquelas onze pessoas,

Naquelas onze semanas,
Por onze deuses e onze diabos,
Iriam me exterminar.


Meretriz

Recebi um e-mail seu,
Com palavras duras e muito cruéis,
Uma verdadeira condenação,
Além de me proibir de voltar,
Além de me encher de aflição,
Me mandou pagar a conta,
Do seu vendido coração.


Três Versos

Errei por diversas vezes,
E errei mesmo, sem parar,
Por nada que tentasse me deter,
Continuei ignóbil, a errar.

De tanto errar uma hora acertei,
Por perseverar, por não desistir,
Por nada que tentasse me obliterar,
Não queria nunca deixar de existir.

Assim resumo meu amor por você,
Minha alma e meu golpe perverso,
Só fiz porque achei que merecia
Uma trilogia de versos.


Ela

Sob o seio do abatimento,
Anônima beleza,
Vejo a partida dela,
E percebo com destreza,
Que ela foi embora,
Só pra me causar tristeza.


Passos mitológicos

Numa casa abandonada,
Numa estrada estranha,
No passado da humanidade,
No fundo de um velho baú,
Cuja visão infundiria,
Saudade, lembrança, romaria,
Desejo, memória, nostalgia,
Encontrei minha ancestralidade.

Era tal a idade,
Daquela máscara vermelha,
Que me servia qual uma segunda pele,
Que me revelava um história,
Que somente em torno da fogueira,
O bisavô de meu tataravô Pereira,
Dançando e erguendo poeira,
Me ligaria a um antigo Deus.

Quando minha Mãe me disse adeus,
Fiquei só comigo mesmo,
E encarei a jovem figura,
No espelho da parede,
Tive de devorar meu medo,
De um engano que era ledo,
E roubar o meu segredo,
E lutar e escapar caverna.

Foi mancando de uma perna,
Que consegui vencer a luta.
Quebrou-se então a velha persona,
E minha face revelou,
Com a graça das ariranhas
Do mais profundo de minhas entranhas,
Sob formas deveras estranhas,
Um coração sem nenhum receio.

Não era produto do meio,
Vindo do próprio Hades,
Era um épico trajeto,
De árdua caminhada.
Foi então de força bruta,
Sob o suor da labuta,
Que a minha história foi fruta,
Do nascimento do Ser.


Desilusão

A casa era pequena,
O caso era confuso,
A moça fazia cena,
O retrato era difuso.
O rapaz se aproximava,
Com seu olhar intruso,
A menina que o observava,
Vestia uma moda em desuso.
Isso foi numa espelunca,
Numa cidade distante,
Depois sobre a luz da Lua,
Tornar-se-iam amantes.
Ele seria fotógrafo,
Ela seria bióloga,
Estudariam psicologia,
Nas suas horas de folga.
Teriam uma criança logo,
A vida seria colorida,
Num altermundo distante,
Bem longe de nossas vidas.
Seriam felizes para sempre,
Como nos contos de fada.
Até que bombas atômicas
Arrancassem suas asas.
Tudo terminaria deserto,
Sem cão, sem árvores nem nada.
Então o futuro seria incerto,
Sem cornetas na alvorada.
Sob a luz laranja do Sol,
Não haveria museu, não haveria espada.
Nem canção mais haveria,
Muito menos essa poesia.
Só restariam solitárias estradas.
Sob a luz laranja do Sol,
Não restaria mais do que um triste nada...


O mentiroso

O meu cartão de visitas,
Nunca foi muito bem vindo,
Não é o Pão de Açúcar,
Nunca será o Pelourinho,

O meu cartão de visitas,
É uma porta fechada,
Para todos os românticos,
Para o coração da amada.

O meu cartão de visitas,
É um cerrado punho direito,
Com um anel grande no dedo,
Sou o valentão perfeito.

O meu cartão de visitas,
É uma mentiraiada,
Sou um pobre romântico,
Desses que não valem nada.


Repórter fotográfico

Depois do atropelamento,
O jornalista se aproximou,
Tomou a vítima nos braços
Abraçou a jovem e olhou.
Foi beijado e retribuiu.
Com toda obediência.
Sem saber daquele beijo,
Qual era a procedência.


Loucura

Ela riscava com os finos dedos
Ladrilhos embaçados pelo calor.
A jovem guardava consigo segredos,
Invenções e desventuras, verdades e medos,
Ela não tinha em seus auspícios,
Que aqueles ladrilhos do quarto,
Naquela sala vazia,
Eram os azulejos do hospício.


Pelo corpo de Estela

Dedo mirando o céu,
Apontando para as estrelas.
Dedos de ternura,
Na ponta do nariz dela.
Dedos de ousadia,
No meio de das pernas de Estela.

Gritos atrás da porta,
Pelos meus simples gestos.
Palavras de rude paixão,
Bebendo seu caldo indigesto,
Dedos pelas suas costas,
Nunca fui muito honesto.

Bandoleiro sorrindo sozinho,
Vida de alvoroço.
Ela é minha Estela,
Mordendo o meu pescoço.
Nunca fui muito bonzinho,
Brincando com o seu corpo.
Deitado em berço esplêndido,
Te amando até o osso.


Perdido

Abro os olhos,
Com Maria.
O coração dispara.
Menina voluptuosa,
Acorda sorrindo para mim,
Com seus olhos azul céu,
Seus lábios negro asfalto,
Seus dentes de paralelepípedos,
E sua pele friorenta.
Essa é minha Maria,
Essa é Maria Sargeta.


Nascido das trevas

Mundana, insana,
Sem pano algum no corpo,
Seguindo, chorando,
Sem pudor algum no rosto,
gozando, sangrando,
Ela geme em alvoroço.

Foi um dia tão inocente,
Menina, criança, gente.
Hoje, amante gentil,
Vampira, leoa, serpente.
Veio revirar meu mundo,
Obliquo, a nada inerente.

Mostrei a ela o caminho,
A trilha pagã da salvação.
Tomei dela a pureza,
Sorrindo e gemendo uma cação.
Que os demônios de nosso belo cosmo,
Abençoem essa prevaricação.

O ventre dela preenchido,
Completa a nossa crucificação.
Nasceria daí um rebento,
Ânsia da vida e da incompreensão.
Ela foi virgem, pura menina,
E ressuscitada como Dragão.


Apocalipse

O carpinteiro trabalhava
Curvas indeterminadas.
Uma amante de madeira
Com seios e alma talhada.
Mas a plasmação da noiva,
O univerço tolia.
Eram formas idealizadas,
Por uma vida atormentada.
Então em acesso de fúria,
Ele cedeu marteladas truncadas,
A a estátua futura,
Chorou pela face lascada.

Quebrou-se deixando a sombra,
De uma beleza esmerada.
E fez para todos a falta,
de uma existencia encerrada,
Cuja presença não esteve,
em nós jamais aclarada.
Cerragens de realidade,
Em uma iluzão revelada.


Capelo

Vôo com minhas asas,
Asas que Deus me deu.
Vôo com minhas asas,
No infinito céu.
Inclino, levanto, rodopio,
Com o sol e o seu calor.
Vôo com as asas da alvorada,
Os caminhos de meu mentor.
Vertiginosamente vôo,
Vôo para o amanhã.
Alçando vôo, os sonhos,
Gaivota de esplendor.

2 comentários:

É isso aí, amigo, manda ver!