sábado, 5 de abril de 2008

Até o topo da montanha...

Os pés de Isadora eram mesmo lindos. Unhas vermelhas, branquinhos, pequeninos, passeando pelas pedras e pela relva naquelas sandálias marrons. Até pareciam deixar um rastro de fadas, ou de algo vivo, mas intangível, que era ao mesmo tempo belo e misterioso. Os tortuosos caminhos da montanha e os dias de caminhada não abalavam a docilidade dos passos da escaladora. Pareciam nunca se cansar aqueles pés. Chegariam ao topo voando, ou dançando. Não importava, nem havia dúvida.

Já Victor, pisava firme, hora na frente de Isadora, hora atrás, sempre atento à menina, com um resistente tênis de caminhadas, se descalçando para subir em árvores e nadar em rios. Eram pés não muito grandes, com a cor escura dos indianos, pois Victor tinha mãe indiana. Eram determinados, guerreiros, de um verdadeiro Kshatria. Houvesse o que houvesse, quem olhasse para aqueles pés saberia que iam chegar ao topo de mais uma montanha.

As línguas dos dois não eram as mesmas. Ele falava espanhol, e sua terra natal era a argentina. Era aquele idioma veloz, romântico, viril. Falava de um jeito meio brusco, mas seu jeito de ser combinava tudo, e transformava a fala do jovem em algo sempre amigável. Ele se comunicava bem, meio desajeitado, explicando tudo diversas vezes e gesticulando bastante. Ela achava graça e acabava entendendo o que seu parceiro dizia. Sua língua só parava para dormir ou para apreciar um ruído qualquer da natureza.

Isadora falava mansinho, fininho, baixinho, mas olhando bem firme. Não dava para não entender o que ela dizia. No máximo ela apontava para uma ou duas coisas, e então estava acertado. Ela sorria e iluminava tudo. Isa adorava o jeito exagerado de Victor. Não falavam o mesmo idioma, mas a língua dela acabava sendo a mesma da dele. Eram escaladores de montanhas, isso facilitava bastante, tinham os mesmos princípios. Os corações eram grandes, e do mesmo país, do país dos Escaladores de Montanhas, a terra dos Sonhos que tem um pedacinho reservado para cada ser humano sobre o Planeta.

Suas mãos combinavam bastante. Eram os finos dedos de Isadora e a grossa palma de Victor. Sempre se puxando, sempre se ajudando. Já estavam acostumadas a se encontrar pelas tortuosas subidas. Isadora havia reparado o quanto Victor gostava de pegar em suas mãos, e Victor sabia que ela gostava do apoio prestativo que ele oferecia. Assim, firmes nos galhos, passeando, cozinhando ou apenas abraçadas, as mãos subiam o inclinado caminho dos Escaladores.

O ímpeto de seus corpos era o reflexo da vontade de suas almas. Se encontraram na encosta da mesma montanha por sorte ou força do destino. Foram mandados por mestres diferentes. Reconheceram a marca dos escaladores em suas roupas, sorriram e subiram. Passo a passo, trabalhando para sobreviver, sob sol e chuva, para amarrar suas bandeiras de superação no topo.

Depois de duas semanas, Victor e Isadora chegaram ao topo. Subiram numa árvore não muito baixa, não muito alta, e amarraram suas bandeiras, a dele, vermelha, a dela, amarela, no mesmo galho, entrelaçadas. Desceram e apreciaram a vista abraçados. Então seus dedos se entrelaçaram, seus corpos se apertaram e suas línguas se misturaram. Dali em diante, suas montanhas seriam sempre as mesmas.

1 comentário:

  1. Sempre dois mundos diferentes, mas com um algo bem comum: estão na mesma montanha.

    B, b.

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É isso aí, amigo, manda ver!