terça-feira, 1 de julho de 2008

Sob velhas árvores, em um novo lugar

No Oriente Médio, a guerra era uma constante. A miséria e as ditaduras africanas pareciam vivas e alegres, a psicose brasileira dançava a musica que a psicose norte-americana cantava. Pais seqüestravam e matavam os próprios filhos, e nada mais era assustador. O mundo seguia e o país neutro ia junto, fazendo de conta que não estava ali, igual à juventude de Brasília, tudo meio que se arrastando, como o inofensivo princípio de uma avalanche mortal.

A cidade de Zurich unia o velho e o novo, e todo lugar era lugar de ler. A mentalidade era fantástica. Tudo era limpo e corretamente angulado, apesar de mecânico, até a gentileza em alemão e italiano das pessoas. Quase não se via algo escrito ou falado em inglês. Os jovens eram corados e bonitos, e até os loucos e os mendigos eram elegantes. Tudo como em um conto de fadas. Dava vontade de ficar por lá, Antônio pensava. Ficar com aquele trânsito, aqueles campos e aqueles olhos azuis que enchiam todas as avenidas. Assim era a bem iluminada cidade, ou cantão da Suíça. Como seria então a Noruega, ele se questionava.

No fone de ouvido, Bob Dylan repetia que a resposta tinha ido embora com a ventania, e as pessoas na calçada, ou às margens do lago, rolavam na grama e almoçavam salada, peixe ou salsichão alemão. Não havia muito o que dizer, e nem um conhecido com quem comentar aquela maravilha de lugar. Ele também não ficaria muito, pois ainda tinha de ir à Holanda e Alemanha. O clima era ameno na primavera. A busca, no entanto, não se detia pelo encanto personalístico com os lugares, afinal de contas, aldeias indígenas eram tão chamativas quanto a velha cidade, antigo recanto Celta. A busca do homem pelo sentido fundamental da vida, que não estava expresso em nada do que se via fora nesses tempos.

Antônio colocou sua imensa bagagem no gramado e sentou-se sobre a sombra de uma árvore para descansar. Começava a cochilar quando uma menina tipicamente suíça sentou-se sorrindo para ele. Finalmente encontrara, ou, na realidade, fora ele achado, por quem havia ido ter para continuar sua busca pela montanha mais alta. Maren tinha o símbolo dos escaladores tatuado no pulso, como lhe fora falado, e cabelos lisos de um preto azulado que ele não fora capaz de imaginar, e o jovem espanhol, de barba loira e olhos amarelos, robusto e de pernas grossas, parecia estar, de fato, diante de alguém diferente dele, e que tinha o mesmo objetivo. Ela se sentou, eles se deram bem a primeira vista, e ela tinha levado salada para ambos. Não se deram aos formalismos, eram escaladores, irmãos, discípulos, e já se conheciam, embora se vissem pela primeira vez.

1 comentário:

  1. Chegou, chegando. O engraçado é que já estavam, ou não? Faziam parte ou pertenciam?

    Sei não. Uma vida inteira feita de cinco minutos.

    Conheço uma história parecida. Quer ouvir?

    =)

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É isso aí, amigo, manda ver!